domingo, 21 de setembro de 2008

A paixão de Luisa como símbolo do rompimento de valores sociais da época

UNIVERSIDADE ESTADUALVALE DO ACARAÚ-UVA
CENTRO DE LETRAS E ARTE-CLA
DISCIPLINA: PRODUÇÃO DE TEXTO
PROFESSORA: MARIA SOARES

Ensaio Científico

A paixão de Luisa como símbolo do rompimento de valores sociais da época

Cristiane Melo Nobre
4° Período- Letras/UVA

Os sentimentos de personagens nem sempre têm sido prioridade na interpretação de fatos que violam valores sociais. Muitas vezes, são vistos como um tabu, uma proibição ou violação de regras sociais. A paixão, por exemplo, sempre foi um tema muito questionado, muitos personagens de novela, contos, romance e pessoas inseridas no contexto da vida real tiveram seus nomes expostos ao ridículo, tidos como violadores morais, e nunca como aqueles que rompem com a tradição de forma consciente. Tal fato costumava e continua ocorrendo devido a falta de experiência ao lidar com este sentimento, que para esses indivíduos, deveria ser o prefácio para o amor, e termina sendo o início de um longo caminho cercado por dores e sofrimento por todos os lados.
O livro, O Primo Basílio, de Eça de Queirós, traz à tona todo o medo e o preconceito do século XIX. Sendo estes acentuados na personagem Luísa, expresso através de seu adultério que aflora e cresce exasperadamente nas entranhas do secreto. O fato, que fez com que se escolhesse Luisa como objeto de estudo, deve-se ao crescimento e declínio da personagem no desenrolar da história. Este acontecimento “puxa” a atenção do leitor e impulsiona a curiosidade, que cresce a cada capítulo, com os planos maquiavélicos impulsionados pela paixão desmedida, o que acabou por ocasionar a perda do bom senso. Então, a personagem supracitada passa a praticar atos, que naquela época era tido como erro muito grave, vindo a comprometer a honra da mulher, não que atualmente não o seja, mas outrora os “valores” tinham um peso maior, logo o adultério, em uma versão do início do século XIX, era tido como imperdoável.
O questionamento dos sentimentos como: felicidade/infelicidade, amor/ódio, justiça/injustiça, e a interferências destes no adultério da personagem Luísa, nesse contexto do livro, merece destaque também uma outra personagem, Juliana, que passa a ditar as regras quanto ao destino de Luísa, pois sabia do caso dela com o primo Basílio e usa essas informações ao seu favor. Assim se confere: “Não estou para aturar! (...) A senhora não me faça sair de mim! A senhora não me faça perder a cabeça! E com a voz estrangulada através dos dentes cerrados: __ Olha que nem todos os papéis foram para o lixo”. (QUEIRÓS, 2000 p.45)
Ela guardava as cartas que Luísa escrevia para Basílio e pretendia mostrar a Jorge, marido de Luísa, querendo, com isso, receber a remuneração merecida pelo longo tempo de trabalho, embora tivesse que forçar a situação. A chantagem amedrontava a descoberta do adultério.
A história de Luísa leva-nos a refletir que, embora não sejamos personagens de um livro, mas de nossa própria história, também obedecemos aos sentimentos; e estes determinam a nossa própria vida. Essa característica é marcante em nossa psique. Quando o obstáculo é muito grande e nos sentimos perdidos, estabelece-se o estado neurótico. Então, perdemos o domínio sobre nossas ações e passamos a ser escravos incondicional delas, porque o rompimento acontece não como uma atitude pensada, mas natural e emocional. Daí nos parte o alerta de nos policiarmos quanto as nossas emoções, essa tarefa se faz árdua, dela depende todo o nosso bem-estar não somente psicológico, mas também físico, pois a mente reflete diretamente no corpo. Somos uma máquina, mas como toda “máquina”, também necessitamos de combustível.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASSIRER, Ernesto. Linguagem e Mito. Trad de J. Guinsberg. Editora Perspectiva, São Paulo, 1972.
COUTINHO, Afrânio.Crítica e Teoria Literária, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Edições Universidade Estadual do Ceará, 1987
Discutindo filosofia. ÉTICA uma reflexão sobre a atualidade e a relevância dessa doutrina filosófica.Ano 2. N° 11
MOISÉS, Massound. “Análise de texto em prosa”. In A análise literária. 11ª ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
QUEIRÓS, Eça de. O Primo Basílio. São Paulo: Rideel, 2000.


Nenhum comentário: