domingo, 21 de setembro de 2008

O naturalismo e sua influência na obra “A Normalista”

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA
CENTRO DE ARTES E LETRAS
DISCIPLINA: PRODUÇÃO DE TEXTO

Ensaio Científico

O naturalismo e sua influência na obra “A Normalista”
Tatiane Rodrigues Melo
Aluna do 4º período de Letras


O naturalismo deixou de lado as discussões de classes sociais e passou a falar dos grupos, não mais atribuindo às pessoas a culpa por seus problemas, e sim, ao meio ambiente, à sociedade e à hereditariedade.
As características que levam os leitores da obra A Normalista, a classificá-la como naturalista são os registros de fatos da realidade social da época e a conclusão de que o homem jamais será um produto do meio em que vive, pois as transformações pelas quais as personagens comprovam essa observação. Nas palavras de Pereira: “Com o surgimento do realismo/naturalismo começou-se a escrever para procurar a verdade, e não mais para ocupar os ócios das senhoras sentimentais e de um ou outro cavalheiro dado a leituras frívolas" (1988: 55-56).
Essa verdade a que se refere Pereira abordada pelos escritores naturalistas, como Júlio Ribeiro, Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, entre outros, consistia em mostrar a realidade de forma nua e crua. Na prosa naturalista não temos mais espaço para as mocinhas donzelas, nem para os cavalheiros educados; temos agora os instintos humanos sendo vasculhados, as alcovas sendo bisbilhotadas, as perversões sexuais sendo retratadas, as traições, a malícia. Em resumo, agora temos as camadas mais baixas da sociedade sendo representadas.
Diante das palavras da crítica Lúcia Miguel–Pereira, constatamos que no seio de suas afirmações há certa generalização no tocante às temáticas empregadas pela estética naturalista. É fato que o Naturalismo abordou “casos de alcova”, “temperamentos doentios”, porém não utilizaram apenas desses assuntos em detrimento de temas sociais para conceber o fio condutor de suas narrativas. A intenção, era representar literariamente as camadas mais baixas da sociedade, em qualquer situação que fosse rompendo de uma vez por todas com a literatura “fantasiosa e mascarada” do Romantismo brasileiro.
Sobre esse aspecto, assim se manifesta Sodré: “O aparecimento do proletariado como assunto literário, o advento dos temas da vida dos pobres e dos trabalhadores como dignos de figurar na criação artística, constituíram apenas um dos aspectos do problema, representando o esforço da literatura, tal como era entendida na época, no sentido de acompanhar as aceleradas transformações então em desenvolvimento. Não tardou, por isso, que a literatura sentisse a necessidade de mudar também os seus processos, gerando uma escola que buscava enquadrar o conjunto social, pondo de parte velhas técnicas e utilizando outras, as que se destacavam do arsenal científico da época e pareciam destinadas a universalizar-se no uso. Estava aceito pela generalidade que o processo romântico era insuficiente para enquadrar os novos temas que a sociedade apresentava, surgindo a necessidade de abandoná-lo, criando-se novos instrumentos, capazes de conciliar a aceitação dos temas da atualidade com a sua representação artística”. (1965, p. 202).
A personagem Maria do Carmo pouco pode fazer para vencer as dificuldades que a vida lhe impôs, já que sozinha no mundo tendo em vista terem morridos os pais, teve de viver ao lado de um casal, o senhor era seu padrinho, um homem sem escrúpulo. A normalista é um exemplo do naturalismo como produto da influência do meio sobre os grupos.
O naturalismo apresenta romances experimentais. A influência de Charles Darwim se faz sentir na “máxima”, segundo a qual o homem é um animal; portanto antes de usar a razão deixa levar pelos instintos naturais não podendo ser reprimido em suas manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da classe dominante. A constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto do naturalismo.
A normalista busca retratar a vida cearense, abrangendo todos os níveis sociais, desde o povo até a aristocracia. O romance foi escrito em uma época em que Caminha se sentia humilhado e deslocado devido à sua união com Isabel Paulo Barros. O livro é um grito de revolta do autor contra o meio que o degrada e critica. Esse apego às suas próprias experiências afrouxa sua obra produzindo passagens inconsistentes.
A literatura que, de forma realista, como também naturalista, é capaz de descrever a sociedade de seu tempo, habilitadas por personagens constituídas em suas múltiplas dimensões. Desse modo, a Literatura ou mais propriamente o Romance tem a mesma capacidade além de ter sido os pioneiros a retratar a vida cotidiana e por extensão constituam-se uma forma de denúncia social, estabelecendo uma associação com a própria experiência humana, reconstruindo a mentalidade de uma época. Obra, época, comportamentos humanos, escola literária são elementos que se fundem nesta análise sobre o naturalismo à exemplo da obra A Normalista.
Referências Bibliográficas

PEREIRA, Lúcia Miguel. Prosa de Ficção (de 1870 a 1920): História da Literatura Brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
SODRÉ, Nelson Werneck. O Naturalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S.A, 1965.

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