domingo, 21 de setembro de 2008

Desenraizamento Cultural, Niilismo e suas Conseqüências na Sociedade

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ –UVA
CENTRO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE LETRAS
DISCIPLINA DE PRODUÇÃO DE TEXTO
ENSAIO CIENTÍFICO
Desenraizamento Cultural, Niilismo
e suas Conseqüências na Sociedade

Selma de Sousa Pereira Nunes
Estudante do 4º período do curso de Letras da UVA

O desenraizamento do personagem Sr. Meursault em “O estrangeiro”, sob a ótica do niilismo, instala-se como um sujeito absolutamente desprovido de sentimentos, movido por um propósito de destruição moral. Meursault, ao ser comunicado da morte de sua mãe, reage com indiferença, mata um homem por motivo fútil, é julgado, condenado à morte e nem mesmo o “finalismo” de sua existência provoca nele mecanismos de defesa ou arrependimento. Isolado do mundo, silencia-se diante dos acontecimentos que marcaram a trajetória de sua vida.
O personagem aqui apresentado influenciado por um passado antigo deprecia seus valores, dissolve seus princípios absolutos através de atos insanos. Desraigado de relações de apego, provido do sentimento de “largar”, consciente da sua liberdade, porém, desesperado por não saber usá-la. Sobre esta questão o pensamento de Nietzsche afirma “(...) renegando os valores metafísicos, redireciona a sua força vital para a destruição da moral. No entanto, após essa destruição, tudo cai no vazio: a vida é desprovida de qualquer sentido, reina o absurdo e o niilista não pode ver alternativa senão esperar pela morte (ou provocá-la)” ( NIETZSCHE, 1948).
O niilista existencialista sofre com angústia, decorrente da consciência de liberdade, ele acredita que o ser humano é incapaz de administrar seus atos, seus sentimentos sem destruição de valores. Isso significa que cada pessoa pode a cada momento escolher o que fará de sua vida, sem que haja um destino previamente concebido. A desvalorização e a morte não são sentidas, sensibilizadas, há ausência de finalidade e de respostas aos “porquês”, isto provoca grandes transtornos à mente desses indivíduos, deixando aflorar nos mesmos situações desastrosas e irreversíveis. Nesta abordagem outro teórico especialista neste estudo faz a seguinte consideração “(...) a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade” (SARTRE, 1946).
No período que corresponde às décadas de 60 até 90 com o crescimento populacional e industrial, o desenraizamento surge novamente atacando as camadas sociais de baixo poder aquisitivo. Com isso, essa sociedade carente e desprotegida é arrancada de suas origens, perdendo sua identidade numa busca incessante pela sobrevivência. A industrialização e a prosperidade trouxeram consigo a imigração, os centros urbanos foram invadidos trazendo prejuízos aos que deixaram suas raízes e seguiram jornada em busca de novos horizontes. O enraizamento é um dos fatores mais importantes à necessidade da alma e um conceito difícil de definir. Bosi (1992) numa manifestação a respeito desse assunto considera “Não se busca o que se perdeu: as raízes já foram arrancadas, mas que pode renascer nessa terra de erosão”.
Dessa maneira, os valores morais e a vida mental desses indivíduos vêm se agravando ao longo dos anos, os tipos se multiplicam e a solução se distancia. O estudo a respeito desse tema cresce, é discutido, polemizado, velhos e novos teóricos abordam com freqüência à cerca desses transtornos psicológicos atribuídos, muitas vezes, a uma sociedade condenada a viver sob pressão do tempo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS
BOSI, Eclea. Cultura e desenraizamento. São Paulo: Ática, 2ª, 1992.
NIETZSCHE, Friedrich. O niilismo. pt.wikipedia.org/wiki. Acessado em 02.09.2008.
SARTRE, JEAN-PAUL. Questão de Método. pt.wikipedia.org/wiki. Acessado em 02.09.2008.
CAMUS, Albert. O estrangeiro. Editora Record. Rio de Janeiro . São Paulo, 1957.

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