domingo, 14 de setembro de 2008

A Intenção Argumentativa no Uso das Expressões Referenciais

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA
CENTRO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE LETRAS
DISCIPLINA DE PRODUÇÃO DE TEXTO

Ensaio Científico

A Intenção Argumentativa no Uso das Expressões Referenciais

Helena Costa Farias
Estudante do 4º período do Curso de Letras – UVA

A intenção argumentativa resulta das relações de sentido que a refenciação produz. Em todo discurso está camuflado uma ideologia. A neutralidade ou imparcialidade nada mais é que um mito, pois a priori ou a posteriori o discurso que se espera neutro, desinteressado, indiferente, também contém uma ideologia, neste caso, seria a da própria neutralidade e ingenuidade do orador discursivo.
A compreensão de uma expressão não consiste apenas em identificar um termo lingüístico, um antecedente, mas acima de tudo, em estabelecer relações de sentido com as informações que já foram anunciadas no interior do discurso.
O progresso de referenciação de um texto faz referência às estratégias lingüísticas, por elas se consolidarem nos segmentos do texto, múltiplos tipos de relações semânticas ou pragmático-discursivas, de maneira que a junção desses fatores colabora para a progressão do mesmo.
A referenciação é realizada através do discurso argumentativo. As análises das estratégias pelas quais se realizam os processos referenciais na produção do texto escrito discutem e explicam como os referentes são introduzidos, conduzidos, retomados, apontados e identificados na sua estrutura.
A relevância desta verificação está diretamente ligada à essencialidade do sistema referencial no que diz respeito à coesão e organização tópica do texto escrito.
A argumentatividade humana está presente em nosso meio, a todo o momento o homem toma posse desse mecanismo para melhor repassar sua mensagem, e essa intenção vai para os textos orais e escritos, neles podem ser observados por todos, em maior ou menor intensidade a intenção argumentativa. Além de ser acessível à observação das manifestações e as maneiras de como expressam os sentimentos e ideologias de cada um deles em nosso cotidiano.
Referenciação é o efeito da operação que realizamos quando, para mencionar, simular ou sugerir algo, empregamos um termo ou nomeamos uma situação discursiva referencial com essa finalidade. De acordo com Fages (1973, p.89), “A chamada função referencial devolve-nos a um contexto, ou seja, a um mundo percebido ou imaginado ao qual se possa referir emissor e receptor”.
As postulações de Koch (2002, p.79) afirmam que “a referência passa a ser considerada como o resultado da operação que realizamos quando, para designar, representar ou sugerir algo, usamos um termo ou criamos uma situação discursiva referencial com essa finalidade: as entidades designadas são vistas como objetos-de-discurso e não como objetos-do-mundo”.
Koch diz que é importante considerar o aspecto de como é construído o texto, pois este não é construído em uma continuidade progressiva linear, onde são somados elementos novos com outros já lançados em etapas anteriores, como se fossem processados numa soma progressiva de partes. Para ela o processamento textual se dá “ numa oscilação entre vários movimentos: um para frente (projetivo) e outro para trás (retrospectivo), representáveis parcialmente pela catáfora e anáfora. Além disso, há movimentos abruptos, há fusões, alusões etc.” (Koch, 2002, p. 85)
A referenciação privilegia uma semelhança intersubjetiva e social da realidade, na qual as referências do mundo são organizadas e avaliadas de acordo com a adequação dos objetivos das ações que estão em desenvolvimento nos enunciadores. É nesta interação que se tomam resoluções sobre como conduzir o pensamento, que palavras optar, que propriedades acionar.
Conclui-se que a progressão textual precisa garantir a continuidade de sentidos e o constante ir-e-vir responsável pela organização do discurso. De tal modo, que propicie o constante movimento de progressão e de retroação, o produtor dispõe de uma série de estratégias ou procedimentos que ampliam um papel relevante que, também, são destinados a assegurar uma seqüência de referentes, ou melhor, de objetos de discurso, adquirida pela cadeia referencial, permanecendo em estado de ativação na memória de trabalho durante o processamento textual.
A introdução será não-ancorada quando um objeto-de-discurso totalmente novo é introduzido no texto. Quando representado por uma expressão nominal, esta opera uma primeira categorização do referente, vejamos os exemplos abaixo.
Exemplo1: Um vaqueiro chegou ontem; o imbecil tinha perdido toda a boiada.
Exemplo2: Romário em sua trajetória esportista já conseguiu alcançar uma marca histórica. O jogador marcou o gol de número 1000 em sua carreira, e muitos outros virão, pois, ele ainda está na ativa.
Tem-se uma ativação ancorada sempre que um novo objeto-de-discurso é introduzido no texto, com base em algum tipo de associação com elementos já presentes no co-texto ou no contexto sociocognitivo.
Exemplo3: ― Padre sou um alcoólatra! — Meu filho! Tem que ter força pra vencer o vício! — E o vinho? Não vem?
Observa-se no último quadrinho da tirinha, que foi introduzido um novo referente — o vinho — que associamos aos elementos co-textuais alcoólatra e vício no primeiro quadrinho e ao contexto sociocognitivo. Estão entre esses casos as chamadas anáforas indiretas e anáforas associativas, de modo geral.
Koch (2002, p. 85), ao falar em progressão referencial, faz referência aos principais tipos de estratégias de progressão referencial: “Uso de pronomes ou elipses; usos de expressões nominais definidas e uso de expressões nominais indefinidas.”
Os objetos-de-discurso não se confundem com a realidade extralingüística, mas (re)constroem-na na própria ação de interação. Isto é, estabelecemos o nosso habitat e a realidade em que vivemos por meio da influência mútua com o entorno físico, social e cultural, portanto, estamos o tempo todo sócio-cognitivamente interagindo de forma direta ou indireta como o nosso meio.
Em resumo, as anáforas são estruturas importantes de construção da textualidade, capazes até mesmo, de proporcionar situações comunicativas de criatividade e beleza nas formas de expressão textual, ou seja, entre muitas funções que elas têm, ainda podemos desfrutá-las para entender o discurso, manter a elegância do texto usando novos termos para não marcar a repetição das palavras. Nas anáforas temos a referenciação realizada por intermédio de formas pronominais (anafórica ou catafórica) nos elementos co-textuais. É neste processo de construção da referenciação que a intenção é gerada na elaboração do sentido no texto, pelo autor, que busca atingir um leitor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FAGES, J. B. Tradução: Miguel Castro Henriques. Para entender o estruturalismo. Lisboa: Moraes Editora, 1973.

KOCH, I.G.V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.

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